terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ladainha

Meia dúzia de vivências repetidas
em dois terços de tempo regulamentar

Nomes que eu não me chamo ecoam
nas lembranças esvaziadas a pulsar
 - Periodicamente renomeiam-me

Noites perdidas já bastaram
mas elas insistem em não desistir
 - Continuam acordando-me

Migalhas desordenadas se reúnem
com incontáveis  gotas envelhecidas
 - Deixam quase nenhum vestígio

Incursões respiratórias chiam de cansaço
apesar de discretamente audíveis
...
O saneamento de tudo parece ser
um epíteto muito específico.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pe(n)sares

Sensação de tempo estéril
Tempo onde não se germinam mais passados
Horas de não conto e poesias
A pensar sobre o de novo – o que revejo na vista de um vale?
Sombras malfeitas ainda me ocupam
Mas a escolha insensata ainda me perturba
Não me poupam o pouco tempo, é claro
Como lembranças-toneladas seriam delicadas?
Ainda a esta altura. Com tudo mexendo a veras.
Continuo remexendo impossibilidades vívidas
Mas por vezes, de certeza, insiro-lhes a eutanásia
Nada tão voluntário. Amo ainda mais que um parto.
Ganho as perdas e não perco sonos... peço os sonhos e continuo
Andando a pequenos saltos de dançarina tímida
Estranhos adjetivos aos ouvidos de hábito
Me coíbo a infelicidade e certas pílulas ainda me servem.

domingo, 19 de junho de 2011

Corpúsculo

Cabeça, tronco e membros
Primeiro olhar curioso para o mundo distorcido
Preocupo-me com o inteiro
e busco todas as integridades
em segundos fugazes do encontro.

Movimentos de corpo único
Algo de dentro do conjunto insistentemente pulsa forte
No presente, tudo se desdobra
e o metafísico se concretiza
em imagens chuviscadas do perceptível.

Nossos tempos correm em batimentos não sincronizados
Desconhecidas sensações nos revelam a magia do desenvolvimento.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ainda

Breves visitas a abismos inexploráveis
Cantos submersos engasgados em lamas de superfície
Contrações... extensões

Frases manchadas de palavras sem sombras
Memórias esvaziadas pela ausência de luz
Quedas... recuperações

Infinitas sensações sem suporte de resgate
Decisões ocasionais reafirmam o alcance da vida

re-torno
re-vejo
re-sinto
Tudo SUJO

sábado, 14 de maio de 2011

Rachadura ou Rochas duras

Borboletas morrem atropeladas
à dias e noites, sem silêncio

Belezas de lupa esmagadas
à dias e noites, com suplício

Olhos de vidro embaçado
mal se dão conta do belo embaraçado

Regeneram-se os cotos,
ou padecem os corpos...?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

DOTE

Ora, senhora, mas vossa alteza não quer!
Incomoda, sem modos, à pele sem toques
os pelos roçáveis duma voz de mulher
De canto, descuida - e sem mas ou lamúrias -
do amor não comprado de uma promessa qualquer.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cotidiano

Decreptudes instaladas
nas sombras das ruas acesas.
Semi-imperceptíveis,
chovem incessantemente.

Natimortos em sobrevida
sem um ventre de luz.
Plim! - Insistem
TUDO claro: CRACK

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CircunferÊNCIA

Amarelo e azul parados

Imobilidade esférica em superfícies lisas

Inacreditável sensação de não tempo

Orbitas que não se encontraram

Raios diametralmente opostos

Duas girantes gigantes perto de outra dimensão

Nunca serão contaminadas pelo verde.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Encarnador

Dores distintas abrigadas
no mesmo delírio automático
Homens estourados
na desfantasia dos abadás
Beijos espalhados se perdem
nos bueiros entupidos
Sangue e suor se dissolvem
na multidão surda, emudecidos

Antigos goles catados em alumínios já quentes
Igualdade embriagada de decibéis indiscerníveis
Miscigenação hipermétrope usa lente divergente

Palcos e espumas compõem
o mesmo cenário nas câmeras do mundo
Distantes e uníssonos trabalham
reconstruindo o mesmo rito dos anos que vêm

Risos encordados não sabem onde seguir
Enquanto ordenham milhões por cada máscara de folia
comprada

Ressalvo:
 - Pulem!
 - Corram!
 - Paguem!
 - Morram!

 - Salvo, Salvem!
o carnaval de Salvador

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fantasmas

Dói até onde não mais existo
A cicatriz convoca os olhos à nova condição
Luto contra o resto que me brota
Os novos limites não me redirecionaram, de aviso

Cinestesias dolorosas
Consciência inexata
Confusões de imagem-sentir

- (Procura-se um novo corpo)

ARMADURA

Almas desconhecidas andam de mãos dadas
e de canto de olho se desconfiam...

Como escutarão os pensamentos íntimos
se ainda não se olharam?

Como reconhecerão as sutilezas do amor nas desrotinas do viver?

Como sentirão seguros seus corpos unidos por palavras frágeis
se ainda não se olharam às pálpebras?
se ainda não papilaram-se as pupilas?

Como sanarão a dúvida de um recém-encontro
que - mal nascido - já se vê roído?

Compartilhamento de espaços únicos
Amores desalmados condenados à busca...
...irão de que cor?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Faltura

As palavras-parede cortam - mas ainda não sangrei
Peçonha ácida: corrosivas letras agridem minhas moléculas
Mentiras duras duram no estômago e fedem como carne em moscas
Desalmados corpos arrastados pelo Não

Os olhares ainda se cruzam
mas só sinto um vão espelhado
um corredor quase fechado
Ar-de tudo sem feridas

Falta conjugada à dor
Herança hematoma relembra o caos do entendimento
Atos cicatrizados quando?

Sobras de tortura esmagam até a fome...
TUDO pulsa estranho.